Transubstanciar Entrevista Julia Bax
T:Estamos aqui com Julia Bax , quadrinista independente,tudo bem?
JB:Tudo Bem.
T: Então de 2009,2010 em diante o mercado brasileiro de quadrinhos ta surgindo uma leva de quadrinistas independentes ,isso pra você como autora isso ajudou,isso dificultou ou isso criou por exemplo tipo de uma nota de corte que você tem que chegar até tal ponto pra lançar seu material?
JB:Eu acho que por mais que isso crie uma concorrência ,pra quem já está fazendo,eu acho que só com uma grande produção que a gente vai construir o mercado de leitores,a gente corre atrás dos leitores,e o leitor ele não pode fazer parte deste universo,isso não existe,eu acho que o ponto de partida são essas pessoas produzindo hoje,que quanto mais pessoas produzindo acaba enriquecendo o mercado pra todo mundo,estando em eventos,mas realmente ,a concorrência existe,a gente vem pra um evento grande como o FIQ vão ter revistas que vão vender melhor,vão ter revistas que vão vender pior ,etc, acaba diluindo um pouco ,mas no fim das contas eu acho que o aumento da produção é bem positivo.
T:Legal,e também eu conversei com o Marcatti ,agora mais cedo que ele esta a mais tempo no mercado que o pessoal aqui e ele falou que assim o quadrinho brasileiro no geral sobrevive de BOOMS,a gente teve o BOOM nos anos 80 do quadrinho de humor,depois teve o BOOM do quadrinho de terror e atualmente estamos tendo o "BOOM" do quadrinho independente ,dai você acha que isso vai continuar ,que isso vai parar daqui um tempo,vai virar outra coisa?
JB:Eu espero,que a gente esteja vivendo um momento um pouco mais estável,porque mas que tenha uma moda que quem produz continue produzindo ,mesmo na época de vacas,mais magras,porque tudo que vai ,volta,porque mesmo que passe a moda,ou que em algum momento vai continuar tendo publico e criando uma coisa sustentável,que não dependa de uma moda , não da pra você fazer uma coisa artística, só pensando que teve um BOOM,quem entrou nessa por causa disso,na primeira dificuldade ou no primeiro ano difícil,só quem persistir ,que vai devagarzinho,criando uma base de Fãs que os seus Fãs de verdade vão te seguir por anos e anos,ainda hoje com internet que você tem a capacidade de reter e dialogar com seu Fã,antes o dialogo com Fã era na banca,hoje você tem internet ,tem facebook,tem lista de emails , Fã te segue ,você faz eventos de crowdfunding no Catarse,você tem o Twitter,você tem maneiras de fazer o Fã não esquecer de você,enquanto você esta trabalhando naquele livro que você não publicou,ainda,a gente tem uma vantagem das redes sociais sobre esses BOOMS anteriores,então eu sou otimista.
T:Legal,no caso assim por você ser uma quadrinista mulher você já sofreu algum tipo de preconceito por editora ou por Fã mesmo?
JB:Por editora,acho que não, por quem ninguém vem na sua cara te dizer,mas existe um tratamento meio diferente,as pessoas ficam ,meio surpresas , elas falam po legal você desenha? desenho,tenho uma cabeça,dois braços ,dois olhos ,consigo desenhar,não tem nenhuma dificuldade de você ser mulher e desenhar,a gente tem todos os aparatos ai ,o FIQ deste ano tá bem legal , tá misto ,tenho visto bastante meninas,tem muita coisa nova,então eu estou achando bem legal, até porque você esta fazendo um trabalho continuo assim,então a gente tem visto nos eventos e até na escola que eu dou aula ,na procura de estudantes de quadrinhos ,meninas,de jovens mulheres que tem interesse em usar essa mídia que é o quadrinho , é uma mídia como o Cinema,pra contar as historías delas.
T:Legal,eu pergunto porque assim, a gente como sociedade Ocidental ,a gente tem algumas ideias preconceituosas,que não é machista,feminista,xistas,eram simplesmente errada porque vamos pegar meu Avo ,ele sabia que existia X,Y,Z , se você falasse pra ele que existe o W , o esse cara é estranho,esse cara vai falar que existe o W ,vai saber ,vai falar que tem outra letra ai,eles tinham meio que moldado na cabeça deles algumas coisas ,ideias preconcebidas que por exemplo:Gibi é coisa de criança , eu já ouvi isso,você já deve ter ouvido isso,mas é aquela coisa não é ,mais o pessoal fica batendo,batendo,dai é a mesma coisa de quadrinho é coisa de moleque ,ou videogame é coisa de moleque ,sabe,ou não tem alguma coisa certa se a menina faz tal coisa,na minha opinião pessoal,eu acho Babaquisse ,acho legal que tenha mulher fazendo quadrinho ,porque você certamente vê o mundo diferente do que eu vejo,do que metade da pessoa vê,então eu acho bom que isto esteja crescendo,que não chega numa igualdade ,mas chega perto.
JB:Legal,eu concordo.
T:E você teria interesse em transformar algumas dos seus álbuns em Animação?
JB:Então eu ia achar muito legal,se os meus personagens passassem pra outras mídias ,mas esse seria um trabalho de equipe,porque animação ,não se faz sozinho porque eu não teria o know-how pra fazer uma animação de qualidade,a gente precisa ter mais coisa ,eu acho porque a gente ainda tem uma trajetória curta,e eu acho que enquanto tiver uma biblioteca de opções maior pra explorar ,essas opções intelectuais,por enquanto eu tenho muito pouca coisa,mas espero que essas mídias se cruzem e que as produções brasileiras virem videogame,animação,um filme live action como acontece nos Estados Unidos,no Japão e na Franca que são mercados bem mais maduros,que o nosso ,não depende só de mim ,depende do próprio mercado de animação brasileiro evoluir.
T: Você já pensou , em fazer um Catarse ,você mais um pessoal de um Curta-metragem de Animação?
JB:Eu acho que , ia ficar muito legal ,um curta de animação baseado num álbum que eu lancei uns anos atrás o Remi ,mas eu ia precisar de uma produtora que entenda de animação ,abraçasse isso de repente,e ai como a gente já ta muito na correria,a gente acaba não tocando muito porque a gente não vive de quadrinhos,a maior parte do tempo eu estou trabalhando pra ganhar dinheiro,e o tempinho que sobra a gente faz quadrinhos,eu acho que depende de ter uma produção maior ,antes de correr atrás disso,eu acho que já existem Catarse pra fazer animação de quadrinhos que já existem,ou buscar ajuda do Governo,como tem os editais,como teve a adaptações do Lourenço Mutarelli,foi animação ,nunca adaptou nada dele pra curta-metragem ,eu acho que vai acontecer mais isso,não assisti ainda,vou procurar ,eu acho que tenho ela no facebook,e vamos ver ,por enquanto eu to trabalhando no fim de semana direto ,já esta bem lotado,sem me envolver com outras coisas,mas eu acho que começar a acontecer bastante ,não só com coisas minha ,mas com o resto do pessoal com trabalho autoral.
T: Não,virou filme,O Cheiro do Ralo virou um longa ,eu ainda não tive tempo de ler o seu ultimo trabalho,mas você já assistiu Brasil Animado,procura , é de um pessoal de São Paulo que chama Mariana Caltabiano ,então ela que fez e é bem legal,as vezes , e coisa de vocês sentarem pra conversar,como você falou ninguém sobrevive só de uma coisa,um papo mesmo,não precisa ser um negocio formal sabe.
T:Legal,e também você tem interesse em trabalhar com Manga ou outras mídias tipo Fumetti?
Não,publica aqui mesmo,não seria copiar,não sei se você já viu o No Game,No Life , o criador e Brasileiro.
Não vai mudar, você vai fazer uma experiência com isso, Dargaud ou eu acompanho algumas coisas da Dargaud , que eu pego em Inglês e Espanhol,tipo eu pego o Escorpião que ta saindo la e não chegou aqui,O Escorpião é um negócio meio os 3 Mosqueteiros ,mas tem público,tipo se a Nemo trouxesse,não sei você já viu ou folheou o Spirou é tipo Tintin ,que tem 32,33 anos de publicação , e tem a Spirou Magazine que tem o Marsupilami que virou desenho pela Disney ,tem muitas coisas interessantes que não chegam aqui,numa época morou um Alemão em casa e ele me deu um álbum do Spirou,que aquela coisa ,eu conhecia de nome , mas você não acha pra comprar,e ele me trouxe um de Portugal,isso e gozado , aqui a gente tem um mercado ,o Lellis vai estar ai amanha.
JB:Bom,você diz publica no Japão por exemplo? Bom eu não gosto de diferenciar por estilo,o estilo ,eu não vou começar a copiar Manga,o meu estilo é meu estilo,não vai virar e nossa ela esta desenhando que nem o Tex,acho que não,a gente tem uma coisa que vem de dentro,e o pessoal tem muita influencia de Manga desde cedo , dificilmente a pessoa vai sofrer uma influencia super-radical de outra coisa,eu gosto de Manga,muita coisa Francesa,muita coisa Americana,eu diria que hoje minha maior influencia são os quadrinhos franceses,inclusive , eu estou trabalhando pra uma editora francesa e publicando la , Dorbache ,e do mesmo dono da Dargaud,e uma pena porque não chega muita coisa aqui,tipo eles publicam na França 5 mil álbuns por ano,que tem a muito tempo ,e os portugueses leem bastante quadrinhos frances ,bem mais que aqui ,a gente le quadrinhos japoneses e quadrinhos americanos , mais o TEX e família , quadrinhos franceses saem um aqui e outro ali pela NEMO ,Companhia das Letras,Mino , lançou um novo do Lellis,bom porque eu quero pegar um autografo dele ,porque ele é um mestre das aquarelas.
T:Obrigado.
JB:Obrigado eu.